TOC: Tem tratamento? Descubra 3 formas de aliviar os sintomas

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Já pensou como seria precisar abrir e fechar a porta 7 vezes antes de sair de casa? Consegue se imaginar tendo uma crise de ansiedade porque deixou uma xícara suja de café na pia para não perder um compromisso? Rituais estranhos e profundo incômodo com situações banais podem ser sintomas de transtorno obsessivo compulsivo. Hoje vamos discutir a patologia nos concentrando especialmente nas opções de tratamento do TOC.

Antes de tudo, vale a pena mencionar que um comportamento compulsivo ocasional é perfeitamente normal. É possível que todos nós já tenhamos experimentado algo parecido em algum momento da nossa vida. Será que tranquei a casa? Será que desliguei o gás? E se o ferro de passar roupa ficou ligado?

O problema está quando esse tipo de preocupação se torna exagerada, e se repete a ponto de prejudicar a execução de tarefas do dia-a-dia, causando pensamentos negativos angustiantes e persistentes em relação a isso. ¹

O quadro pode evoluir, e nesse caso, a pessoa pode criar rituais estranhos que servem como “precaução” para que essa coisa ruim que ela tanto teme não venha a acontecer. Por isso, é muito importante ressaltar que o TOC não é uma simples mania ou uma implicância qualquer, o TOC é um transtorno psíquico e precisa de tratamento.

TOC Transtorno-Obsessivo-Compulsivo- manias
Fonte: Envato – Foto de microgen

Entenda o transtorno obsessivo compulsivo ¹

A principal característica do TOC é a presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões. Entenda o que isso significa, como essas duas coisas se relacionam para criar um círculo vicioso:

Obsessões

Entende-se por obsessão pensamentos, ideias e imagens que invadem a cabeça de alguém de forma insistente, sem que ela queira. É algo que ela não consegue controlar nem evitar. Para ter algum alívio desse sintoma, a mente cria alguns “rituais”, comportamentos estranhos, que são chamados de compulsões.

Compulsões

As compulsões são comportamentos de ordem obsessiva, uma maneira que o cérebro encontra para se livrar dos pensamentos que causam sofrimento. Eles geralmente incluem regras e etapas rígidas que ajudam a aliviar a ansiedade. Algumas pessoas com TOC acham que, se não agirem de determinada maneira (geralmente estranha), algo terrível pode acontecer.

O círculo vicioso

A obsessão e a compulsão se retroalimentam, ou seja, a medida que a pessoa tem pensamentos negativos, ela começa a criar formas de aliviar esses sintomas. Da mesma forma, os pensamentos obsessivos tendem a aumentar tão logo o alívio venha, depois que os rituais são realizados. A terapia comportamental chama isso de “reforço negativo.”

Sempre que tem um pensamento obsessivo, a pessoa realiza um ritual que dá alívio ao sintoma. Dessa forma, o cérebro ganha uma espécie de recompensa inconsciente pelas obsessões que criou. Isso cria uma espécie de gatilho mental, por isso, a mente tende a produzir mais pensamentos obsessivos para receber novas recompensas compulsivas.

Isso cria um mecanismo problemático e vicioso, que pode transformar-se num obstáculo não só para a rotina diária da pessoa, como para a vida da família inteira. Por isso pode ser que o tratamento do TOC também envolva as pessoas que convivem com os prejuízos causados pelo transtorno.

 

Manifestações mais comuns

Em geral, os rituais se desenvolvem nas áreas da limpeza, checagem ou conferência, contagem, organização, simetria, colecionismo, e podem variar ao longo da evolução da doença.

transtornos de ansiedade
Fonte: Envato – Foto de stevanovicigor

TOC é um tipo severo de Ansiedade?

A ansiedade e o TOC estão relacionados, mas não são a mesma coisa, muito embora o paciente com TOC esteja sempre em estado de ansiedade.

O TOC é um transtorno de ansiedade. Ele está descrito no Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM 5), elaborado pela Associação de Psiquiatria Americana. Os pensamentos que acontecem no transtorno obsessivo compulsivo demonstram ansiedade, enquanto os comportamentos definem mais claramente a presença do transtorno.

Em outras palavras, no transtorno obsessivo compulsivo a ansiedade é voltada para a realização dos atos compulsivos. Isso significa que ele tanto pode ser “um tipo” ou seja, uma manifestação isolada de ansiedade, quanto uma consequência (ou um agravamento) de uma condição pré-existente, nesse caso, o transtorno de ansiedade generalizada (TAG).

Resumindo: todas as pessoas que convivem com o TOC têm algum grau de ansiedade, mas nem  sempre pessoas com TAG terão TOC. ³

Uma pesquisa brasileira revela que 63% das pessoas com TOC também relatam ter diagnóstico de TAG. O mesmo estudo aponta que menos 68% dos entrevistados convivem ao mesmo tempo com TOC e depressão e que 35% deles também foram diagnosticados com fobia social. Por isso o tratamento do TOC deverá levar em conta a gravidade dos sintomas e as possíveis condições associadas.

O que não é TOC
Fonte: Envato – Foto de microgen

Impressões erradas sobre o TOC 4

A desinformação a respeito do assunto costuma confundir as pessoas a respeito do que é TOC. Por isso a educação emocional e as reflexões sobre saúde mental são importantes. Por exemplo, práticas comuns e cotidianas, como levantar-se sempre do mesmo lado da cama, manter a mesa do escritório organizada ou os ajeitar os copos  sempre numa mesma ordem não são – por si só – sinais e sintomas típicos do transtorno obsessivo-compulsivo.

Pessoas com TOC desenvolvem comportamentos problemáticos por causa de sofrimentos intensos por coisas aparentemente banais. Elas também praticam manias de forma muito mais intensa, irracional. Isso tudo interfere de forma negativa na qualidade de vida e saúde mental da pessoa, diminuindo seu desempenho no trabalho e na vida social, pois muitas vezes ela tem dificuldade de cumprir de regras e horários, pois está presa à comportamentos compulsivos.

É nesse tipo de sintoma que o médico irá se basear para definir se há necessidade de ajuda de um ou mais especialistas.

É importante lembrar que crianças também podem apresentar sintomas de TOC desde cedo, um exemplo é quando a criança demonstra a necessidade de refazer ou verificar a tarefa escolar várias vezes.

Será que é TOC?

Para diferenciar se uma pessoa tem TOC daquela que apenas gosta das coisas devidamente organizadas é preciso prestar atenção. Se os rituais começam a tomar tempo, interferem nos compromissos diários, prejudicam a qualidade de vida e atrapalham a capacidade de estudar e trabalhar ou manter relações sociais, gerando angústia e solidão, é preciso buscar ajuda. ²

Tratamento do TOC e prevenção ao suicídio

Apesar do termo ser banalizado e muitas vezes comparado com simples manias, nós já conseguimos identificar que esse é um transtorno grave que pode causar muitos danos na vida de alguém. Além dos prejuízos emocionais e altos níveis de stress (que por sua vez poderão trazer mais problemas), as consequências  também costumam se estender para outras áreas da vida, incluindo a atuação profissional, os relacionamentos familiares, amorosos e de amizade.

Esse cenário é preocupante e pode explicar outra co-relação importante: a falta de tratamento do TOC e o suicídio. Os levantamentos da pesquisa brasileira que citamos há pouco também revelaram que um terço dos pacientes com o distúrbio já teve vontade de se suicidar e que 10% já haviam tentado suicídio. Isso demonstra o grau de sofrimento das pessoas e a importância do tratamento do TOC, inclusive como uma forma de prevenção ao suicídio.

Opções de tratamento do TOC
Fonte: Envato – Foto de gpointstudio

Tratamento: Formas de aliviar os sintomas do TOC

O transtorno não tem cura, mas o tratamento para o TOC é muito importante para controlar os sintomas e evitar que eles interfiram ainda mais no bem-estar e qualidade de vida do paciente.

Em geral o tratamento do TOC precisa ser feito por toda vida, seja somente com medicação, ou o mais recomendado: a administração de remédios mais a psicoterapia, pois os o tratamento é mais eficaz quando há uma combinação entre eles.

A partir do diagnóstico médico feito por meio de uma conversa e investigação clínica, o médico começa a planejar as ações que irão contribuir para a diminuição dos sintomas. A primeira coisa a se fazer é a orientação quanto à patologia, ou seja, explicar direitinho o que é o TOC, suas características e seus riscos. ²

Na sequência, vêm a terapia cognitivo-comportamental e os remédios da classe dos inibidores seletivos de recaptação de serotonina, normalmente prescritos para tratamento da depressão. A união dessas duas estratégias em um tratamento de longa duração é a que costuma trazer os melhores resultados. ²

Estas são as duas principais abordagens de tratamento para TOC. Cerca de 60% mantêm um bom controle de seus sintomas com esse método. No entanto, o apoio das pessoas próximas como familiares e amigos também contribuem muito para a melhora na saúde mental da pessoa com TOC.

Conheça um pouco mais sobre os tratamentos do transtorno obsessivo compulsivo:

1 – Tratamento do TOC com psicoterapia

A psicoterapia cognitivo-comportamental é considerada pelos médicos como uma das formas mais eficientes de tratamento para TOC, principalmente se combinada com medicamentos. As técnicas psicoterápicas consistem em expor a pessoa gradualmente a situações em que, normalmente, ela lançaria mão de obsessões e compulsões para lidar.

Esse processo continua até que o paciente consiga aprender maneiras saudáveis de lidar com a própria ansiedade, sem recorrer aos comportamentos inadequados que acabam aumentando a prevalência dos pensamentos problemáticos. 4

Tratamento para TOC com medicação
Fonte: Envato – Foto de leungchopan

2 – Tratamento do TOC com medicação

O tratamento de TOC pode ser medicamentoso e não medicamentoso. O medicamentoso utiliza antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina. ²

Em relação à medicação é importante saber:

  • Nunca se automedique, mesmo que conheça alguém que tenha se beneficiado do uso de determinado remédio, isso não significa que ele lhe trará o mesmo efeito, apenas o médico poderá identificar qual o melhor tipo de remédio para você, avaliando seus sintomas, seu histórico clínico e também investigando se há outras condições associadas que podem se beneficiar ou não de determinadas drogas;
  • Siga à risca a recomendação médica em relação aos horários e doses. Tomar mais ou menos remédios do que o indicado pode trazer sérios riscos à sua saúde, esteja atento a receita e faça o tratamento conforme a orientação;
  • Esteja atento ao armazenamento correto do medicamento. A bula geralmente traz instruções importantes sobre isso. A ação do medicamento pode ser reduzida se estiver exposto à luz, umidade e outros fatores ambientais;
  • Preste atenção às interações medicamentosas, sempre comunique seu médico sobre o uso de outros remédios e outras substâncias como álcool ou drogas.

3 – Tratamento do TOC com a rede de apoio

A rede de apoio é muito importante no tratamento do TOC e de outros transtornos mentais. O tratamento em saúde mental é sempre único e baseado na história de vida e necessidades de cada paciente. É importante pensar além do transtorno, valorizando a pessoa por trás da doença. 5

Desse modo, não existe uma fórmula mágica, mas algumas dicas podem ajudar:

  • Incentive a pessoa a tomar a medicação recomendada pelo médico, não sugira qualquer tipo de remédios;
  • Ajude-a a elaborar os sintomas, lembrando-a que é um transtorno e ela não tem culpa pelo que sente e pensa;
  • Não faça piadas ou brincadeiras em relação àquilo que você considera estranho. Lembre-se que a mente é algo muito complexo e todos estamos sujeitos a pensamentos obsessivos;
  • Aconselhe a pessoa a procurar ajuda psicológica, o tratamento do TOC se beneficia muito da terapia;
  • Procure ouvir a pessoa, acolher seus medos e somente esteja lá, não diga a ela o que fazer ou crie regras sobre como ela deve se comportar;
  • Se os comportamentos inadequados da pessoa também atrapalham a sua vida e a sua rotina, busque você também orientação psicológica para entender como estabelecer uma relação mais saudável com a pessoa que sofre com o TOC.

Se você é a pessoa com o distúrbio, procure falar abertamente com as pessoas que confia sobre o tema, talvez você precise se esforçar no começo, mas ter alguém com quem dividir suas angústias pode ser uma maneira mais saudável de aliviar seus sintomas.

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Colaborou neste artigo:
Dr. Michel Haddad
CRM-SP 145096 / Especialidade: Psiquiatria


Referências bibliográficas e datas de acesso

1 – Drauzio Varella – acesso em 17/12/2019

2 – Saúde Abril – acesso em 17/12/2019

3 – Minha Vida – acesso em 17/12/2019

4 – Minha vida – acesso em 18/12/2019

5 – Cuidados pela vida – acesso em 18/12/2019