Beber tomando antibiótico? 7 mitos desvendados

pode beber tomando antibiótico?

O uso de medicamentos gera muitas dúvidas e isso vai muito além do melhor horário para tomar o remédio. Os antibióticos, por exemplo, figuram dentre os medicamentos que mais geram dúvidas: pode beber bebida alcoólica tomando antibiótico?, o antibiótico tira o efeito do anticoncepcional?, dentre tantas outras.

A falta de informação e orientação sobre o uso correto de medicamento pode alimentar a criação de mitos, o que não é algo bom. Visto que pode gerar resistência do paciente em tomar determinado medicamento por acreditar em algo que não tem fundamentação científica, prejudicando assim o seu tratamento.

Por isso, hoje, escolhemos falar de forma bem completa sobre os antibióticos e desvendar alguns dos mitos e verdades envolvendo esse tema.

De onde vêm os antibióticos? ¹

A descrição de cura para infecções usando plantas com propriedades semelhantes aos antibióticos apresenta registros há mais de 2500 anos na China.

Contudo, somente com a descoberta da penicilina, pelo médico inglês Alexander Fleming, é que os antibióticos começaram a ter importante impacto no tratamento e cura de infecções.  Cabe salientar que, embora descoberta em 1928, a penicilina tem seu uso clínico apenas a partir da década de 1940, causando grande impacto na prática médica e no tratamento e cura de doenças infecciosas em todo o mundo.

Com a descoberta, a penicilina passou a ser utilizada no tratamento de infecções respiratórias, como sinusites e faringites, além de algumas infecções, como a meningite bacteriana e a pneumonia bacteriana, que tiveram considerável queda nas taxas de mortalidade e letalidade.

O que são antibióticos e para que servem?

Os antibióticos são medicamentos usados para tratar infecções causadas por bactérias. Existem muitos tipos diferentes de antibióticos, sendo uma das medicações mais prescritas pelos médicos atualmente. ¹

Esses medicamentos atuam de duas formas, como bactericida ou bacteriostático. Os antibióticos bactericidas atuam destruindo os microrganismos causadores de infecções, enquanto os antibióticos bacteriostáticos agem de modo a deter a reprodução das bactérias causadoras da infecção, facilitando com que as defesas naturais do organismo possam combatê-las. ²

Como saber qual o antibiótico mais indicado?

Desde 2010, o acesso aos antibióticos requer a retenção da receita médica junto à farmácia. Esse controle foi estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ampliar o controle sobre essas substâncias, principalmente após o aumento do número de contaminações pela superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC). 3, 4

Além disso, de certa forma, existe no brasileiro uma “cultura do antibiótico”, na qual pacientes esperam receber o medicamento e, em alguns casos, a banalização em sua prescrição. No entanto, febres, resfriados e gripes, por exemplo, não indicam obrigatoriamente a necessidade de uso de antibióticos. 5

Portanto, apenas o médico será capaz de indicar se o uso de antibiótico é necessário e qual o medicamento mais adequado para o seu caso, devendo utilizar a receita especial e duas vias, conforme orientação da Anvisa.

mitos sobre antibióticos
Fonte: Envato – Foto de DragonImages

Verdade ou mito sobre o uso de antibióticos

Pode beber tomando antibiótico? Essa é uma das primeiras dúvidas quando se trata do uso de antibióticos. Mas, além dela, existem outras questões que envolvem superbactérias, horários e uso de anticoncepcional  em conjunto que também geram muita insegurança, mas, hoje, esses e outros mitos serão desvendados! Vamos lá?

Pode beber tomando antibiótico. Verdade ou mito? 6

É verdade (em parte)! Seu médico sempre irá passar a orientação precisa se o medicamento prescrito perde a eficácia ou não com a ingestão de bebidas alcoólicas. A maioria dos remédios contra infecções não sofrem interações com o álcool e no momento da consulta você pode tirar as dúvidas com o seu médico.

Contudo, quantidades acima de 50 gramas diárias de álcool, o que equivalente a três latas de cerveja ou uma dose de uísque, por exemplo, já causam queda na imunidade. Se você concordar que o sistema imune funcionando a plenos pulmões é fundamental para que o organismo possa combater infecções, sim, beber tomando antibiótico é um problema.

Outros mitos e verdades sobre o uso de antibióticos

Os mitos e dúvidas sobre o uso de medicamentos não acabam com a questão de beber tomando antibiótico. Por isso separamos mais alguns mitos e verdades sobre o uso desse importante medicamento. Vamos desvendá-los?

Posso parar de tomar o meu antibiótico assim que começar a sentir-me melhor. Verdade ou mito?

É mito! E daqueles que precisa ser combatido com muita seriedade. Durante o tratamento com antibióticos é essencial respeitar a orientação do seu médico. Ou seja, mesmo você estando melhor é preciso que cumpra o tratamento até o fim. Isso porque se você parar de tomar o antibiótico, as bactérias que ainda estão vivas poderão adquirir maior resistência e fazer com que a infecção se torne mais difícil de tratar.

Não tem problema tomar antibiótico fora do intervalo de tempo prescrito pelo médico, desde que tome a dose certa. Verdade ou mito?

É mito! Todo medicamento possui um tempo de ação em nosso organismo, o mesmo ocorre com os antibióticos. Por isso, ao tomar antibióticos de forma irregular, permitimos que as bactérias se adaptem e se multipliquem, aumentando o problema da resistência aos antibióticos. 7

Antibiótico corta o efeito do anticoncepcional. Verdade ou mito?8

É verdade! Por muitos anos a rifampicina foi indicada como o antibiótico que podia causar redução da eficácia dos anticoncepcionais hormonais. Contudo, estudos mais recentes mostram que os antibióticos de largo espectro, aqueles que conseguem matar mais tipos de bactérias, são até mais perigosos. Nessa lista estão: amoxilina, penicilina, eritromicina e a tetraciclina.

Mas porque um antibiótico pode colocar em risco a eficácia do anticoncepcional? Para responder a essa pergunta é preciso saber como esses medicamentos agem no organismo.

Os antibióticos não destroem apenas as bactérias causadoras da doença, mas também a flora bacteriana presente no intestino. Essa flora é importante para o anticoncepcional funcionar, já que as bactérias ali presentes são responsáveis pela reativação do estrogênio. Sem o trabalho delas, o estrogênio simplesmente é eliminado do corpo e a mulher pode ficar desprotegida e engravidar.

Assim, se você não conhece o princípio ativo do medicamento que está tomando, use preservativo. Prevenir é sempre a melhor opção.

Tomar antibióticos causa cáries nas crianças. Verdade ou mito?

É mito! Os antibióticos não causam cáries. O que acontece, em especial com as crianças, é a higiene bucal inadequada ou ineficiente aliada aos maus hábitos alimentares – consumo excessivo de doces, guloseimas, refrigerantes e carboidratos, por exemplo. 9

Posso guardar o antibiótico que sobrou para tomar em uma próxima infecção. Verdade ou mito?

É mito! Na realidade, o ideal é fazer o descarte correto do medicamento após terminar o tratamento.

Mas se o remédio ainda está dentro do prazo de validade isso pode parecer desperdício, não é? Entendemos esse ponto de vista, porém, é preciso lembrar que o antibiótico X é eficaz para a bactéria X. Assim, se a nova infecção for pela bactéria Y, o antibiótico X pode não ter efeito.

Fonte: Envato – Foto de LightFieldStudios

Outros motivos para não guardar antibióticos

Por fim, também vale lembrar que ter um estoque de medicamentos pode representar risco se temos crianças em casa. Já que a exposição a remédios de maneira inadequada pode causar consequências sérias como intoxicação por medicamentos ou até mesmo envenenamento. Prova disso é análise feita pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) que mostra que, em média, 37 crianças e adolescentes de até 19 anos sofrem são acometidos por intoxicações desse tipo todos os dias. 10

A importância do bom uso dos antibióticos

Os antibióticos foram uma revolução na medicina, mas com o tempo passaram a ser usados sem o cuidado necessário. Como vimos, no Brasil, isso fez com que fosse necessária a criação de leis e regulamentações para limitar a compra indiscriminada de antibióticos. Assim, desde 2010, é necessária a apresentação de receita médica em duas vias para a compra do medicamento, uma das quais fica com a farmácia.

É preciso que entendamos que o uso de antibióticos deve ser feito da maneira correta, afinal isso ajuda a prevenir a criação de resistências e de superbactérias, além de tornar a cura da doença mais garantida para o paciente.

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Colaborou com esse artigo:

Dr. Leonardo Ruffing
Infectologista e Clínico Geral – CRM SP 129537

Referências bibliográficas e datas de acesso

1 – Biblioteca Virtual em Saúde da Atenção Primária à Saúde (BVS APS) – 19/04/2020

2 – MSD Manual – 19/04/2020

3 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – 19/04/2020 

4 – Consultório Jurídico (Conjur) – 19/04/2020

5 – Guia da farmácia – 19/04/2020

6 – Portal R7 –20/04/2020

7 – Portal R7 – 20/04/2020

8 – Sanar Saúde – 10/05/2020

9 – Sorrisologia – 21/04/2020

10 – Saúde iG – 21/04/2020

11 – Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – 21/04/2020