Endometriose: sintomas, causas e tratamento

endometriose

A endometriose apresenta sintomas comuns às mulheres em idade fértil, como a cólica menstrual. Pesquisas apontam que cerca de 10% da população feminina apresenta a doença. Embora não existam dados oficiais, estima-se que só no Brasil o número chegaria a 7 milhões de mulheres. ¹

Esses dados tão significativos fizeram com que o problema seja conhecido como a doença da mulher moderna. Isso se justifica porque, hoje, a mulher menstrua mais, já que a maternidade é adiada e as mulheres têm menos filhos. Além disso, o estresse, a ansiedade e fatores genéticos ou ambientais podem estar relacionados à doença. ²

Afinal, o que é endometriose? Quais os seus sintomas, causas, como é para a mulher conviver com a doença? Esses são apenas alguns dos tópicos do nosso texto de hoje. Continue a leitura e saiba mais!

Conhecendo melhor o aparelho reprodutor feminino

Para entender o que é a doença, antes, é preciso conhecer um pouco mais da anatomia feminina.

Em termos gerais, sabemos que o aparelho reprodutor feminino é formado na parte externa pelo monte de Vênus (monte púbico) e vulva (que inclui os grandes lábios, os pequenos lábios e o clitóris). Já na parte interna temos a vagina, o útero, os ovários e as trompas uterinas (ou trompas de Falópio).³

endometriose sintomas
Fonte: Envato – twenty20photos

Mas, além dessas partes, o útero é dividido em três: o miométrio, o periométrio e o endométrio. Embora as demais partes também sejam importantes, hoje a nossa conversa terá como foco o endométrio. Vamos lá?

Endométrio: mocinho ou vilão?

O endométrio é a membrana de revestimento interno do útero. Essa membrana tem uma função muito importante para a mulher, principalmente quando pensamos em gravidez, já que é nela que o óvulo fecundado se prende para que o embrião possa se desenvolver.

A função do endométrio é acolher e nutrir o embrião nos estágios iniciais da gravidez, oferecendo condições necessárias para a implantação e nutrição do óvulo fecundado, até a formação da placenta, que depois vai assumir a tarefa de fazer o transporte de nutrientes e oxigênio entre mãe e feto.

Ele é um tecido formado e destruído periodicamente no ciclo menstrual, em resposta às alterações hormonais, por isso, quando a fecundação não ocorre, toda a camada funcional do endométrio é expelido pelo organismo. Isso ocorre mensalmente através da menstruação. Nesse sentido, vemos que o endométrio é um mocinho. Mas quando ele se torna um vilão para a saúde da mulher?

Por motivos que ainda não são bem conhecidos pela medicina, parte do endométrio pode não ser completamente eliminada durante a menstruação, gerando o que se chama de endometriose.

O que é endometriose?

Assim, a endometriose é a presença de células do endométrio (membrana que reveste o interior do útero) em outras partes do corpo. Nessa condição, mesmo fora do seu local de origem, essas células mantém o seu funcionamento normal.

E é justamente a descamação do endométrio por meio da menstruação o que possibilita que essas células possam chegar, através das trompas, a outras partes do corpo como, por exemplo, atrás do útero, nos ovários, no intestino ou até mesmo na bexiga. 5

Endometriose: sintomas mais comuns

O principal e mais comum sintoma da endometriose é a cólica menstrual e, infelizmente, a crença popular de que a cólica é algo normal é o que mais prejudica o diagnóstico inicial da doença.

mulher com dores
Fonte: Envato – seventyfourimages

Assim, é importante ter claro de que cólica menstrual intensa pode ser sinal de um problema muito maior. Além disso, outras dores e sintomas podem estar associadas ao problema como, por exemplo:

  • Dores na parte inferior do ventre, especialmente antes e durante a menstruação
  • Desconforto ou dor ao defecar ou urinar
  • Dor durante as relações sexuais
  • Dores pélvicas em outros momentos que não durante a menstruação
  • Fluxo menstrual intenso e irregular
  • Dificuldade para engravidar
  • Fadiga crônica
  • Alterações urinárias ou intestinais durante a menstruação

Endometriose: sintomas por área afetada 4

A endometriose pode ainda apresentar sintomas que variam de acordo com a área afetada pela presença de tecido do endométrio. Vamos focar nos três mais comuns: ovários, intestino e bexiga.

Quando os ovários são a área afetada os sintomas tendem a ser mais genéricos, como cólica intensa, sangramento menstrual excessivo e dores durante o ato sexual.

Nos casos em que a endometriose está localizada no intestino, é possível perceber a presença de sangue nas fezes e dor ao defecar. Além disso, é comum a sensação de inchaço na região da barriga e prisão de ventre acompanhada de episódios de cólica intensa.

Já quando a doença afeta a região da bexiga, a principal queixa é a dor ao urinar. Contudo, é possível que a mulher apresente outros sintomas como, por exemplo, incontinência urinária e dor durante o ato sexual. Nesse caso, também há relatos da presença de sangue na urina.

Por fim, há casos em que a mulher pode mesmo não apresentar nenhuma queixa ou sintoma. Embora em menor número, esses casos ressaltam a importância de um acompanhamento ginecológico regular. Este que vai desde o monitoramento do estado de saúde geral da mulher até a verificação do estado hormonal feminino.

Causas da endometriose

Há anos a medicina busca explicar as causas da endometriose. Porém, o que se sabe até hoje ainda não explica todos os casos da doença.

ginecologista
Fonte: Envato – insidecreativehouse

Até então, a medicina tem algumas teorias que explicam o surgimento da endometriose. A principal delas é a chamada teoria da menstruação retrógrada. Vamos saber mais sobre ela?

Menstruação retrógrada 5

Todos os meses, o corpo da mulher se prepara para a implantação de um óvulo fecundado. Para isso, os hormônios produzidos pelos ovários atuam fazendo com que o endométrio se torne mais espesso. O objetivo dessa mudança é que um óvulo fecundado seja implantado no útero. Entretanto, nem sempre a gestação acontece, assim, ao final do ciclo, esse endométrio sofre uma descamação e é descartado por meio da menstruação.

A principal teoria para a endometriose se baseia justamente no movimento do sangue menstrual pelo corpo da mulher. Este que, ao invés de sair pelo canal vaginal, acabaria por migrar no sentido oposto, retornando em direção à cavidade abdominal pelas trompas. Esse movimento contrário do sangue menstrual é a chamada menstruação retrógrada.

Esse movimento contrário ou refluxo é algo comum de ocorrer durante o período menstrual de diversas mulheres. Porém, nas mulheres com endometriose o sistema imunológico seria incapaz de reconhecer e destruir células que estão em locais onde não deveriam estar.

Outras possíveis causas

Nos casos de endometriose na parte externa do útero ou ovários, há teorias que falam sobre a possibilidade de algumas mulheres desenvolverem o problema após passarem por uma cirurgia, como a retirada do útero (histerectomia) ou uma cesariana. Isso ocorreria porque células endometriais podem ficar presas no local da incisão.

Já para a endometriose em outros órgãos ou locais do corpo, uma explicação possível fala do transporte de células do endométrio por meio do sistema linfático e/ou sanguíneo.

Por fim, podemos citar a teoria relacionada às células tronco-embrionárias, já que o tecido que reveste a região do abdômen e da cavidade pélvica é feito dessas células. As células tronco-embrionárias são capazes de se transformar em qualquer outra célula, assim, poderiam se transformar células endometriais, causando então a doença.

Investigando a endometriose e os sintomas: como é o diagnóstico? 6,7

Uma vez que a mulher desconfie que as cólicas menstruais estão mais intensas do que deveriam ser, é hora de procurar orientação médica. A especialidade médica que cuida da saúde feminina e que vai tratar um possível caso de endometriose é a ginecologia.

Nesse momento é importante que a mulher liste os sintomas e queixas, além de dúvidas que tenha sobre o tema a fim de ter uma consulta o mais esclarecedora possível. Uma vez que os sintomas e queixas se relacionem ao problema o médico pode solicitar alguns exames específicos como, por exemplo, a ultrassonografia transvaginal e a laparoscopia. Mas, para esclarecer melhor essa etapa, vamos listar e falar brevemente dos exames que auxiliam no diagnóstico.

Ultrassonografia transvaginal

A ultrassonografia transvaginal é dos exames mais simples que podem auxiliar no diagnóstico, pois suas imagens além de identificar a endometriose, permitem que o médico visualize se há a presença de cistos de células endometriais nos ovários, aderências pélvicas e endometriose profunda.

Ressonância magnética

Opção de exame mais específica, a ressonância magnética é um exame de imagem utilizada para identificar endometrioma e endometriose profunda.

Laparoscopia

A laparoscopia é um procedimento em que são feitas pequenas incisões no abdômen da mulher, por onde passam uma câmera e pinças que ajudam na visualização das lesões. Esse procedimento permite ainda que as essas lesões sejam removidas. Ou seja, além de fazer o diagnóstico da endometriose com a biópsia, a laparoscopia também serve como um tratamento de alguns dos sintomas da paciente.

Laparotomia

Semelhante à laparoscopia, que é uma cirurgia, a laparotomia é um procedimento mais invasivo. Nele, as incisões são maiores e a visualização a olho nu é feita para acessar os órgãos internos.

Tanto na laparoscopia quanto na laparotomia, o médico deve solicitar uma biópsia da lesão, o que confirma o diagnóstico.

Tenho um diagnóstico, quais as opções de tratamento?

As atuais opções de tratamento para endometriose dependem de alguns fatores como dos sintomas da mulher, se ela possui planos de engravidar e da idade, assim como do local afetado e do estágio da doença.

endometriose tratamento dos sintomas
Fonte: Envato – RossHelen

Ao avaliar a gravidade da endometriose e seus sintomas, da extensão e localização da doença, o desejo ou não de engravidar e a idade da mulher, o médico fará a escolha do tratamento mais adequado. Dentre as opções estão: 8,9

  • Tratamento tradicional medicamentoso
  • Cirúrgico
  • Combinação de ambos

O tratamento medicamentoso pode envolver o uso de anticoncepcionais de uso contínuo a fim de interromper o ciclo menstrual e a criar de um estado similar à gravidez. Isso pode auxiliar impedindo a progressão da doença. As vantagens desse tratamento para endometriose incluem o alívio de grande parte dos sintomas. Contudo, não elimina os focos ou as aderências causadas pela doença.

É importante que a mulher saiba que somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. A automedicação jamais deve ser feita, também não se deve interromper o tratamento sem consultar o médico.

Já o tratamento cirúrgico é utilizado para a remoção dos focos da doença e drenar possíveis cistos endometriais. Nos casos quem que existem lesões em órgão como o intestino ou a bexiga, a ressecção da área afetada também é uma opção.

Vivendo com a endometriose

Finalizando a nossa conversa de hoje, é importante frisar que nenhum diagnóstico é sinônimo de fim da vida.

A endometriose é sim uma doença séria e que exige todo um cuidado e atenção da mulher. Nesse sentido, a troca de informação de qualidade e de experiências em grupos de apoio pode auxiliar de forma positiva para que a mulher se empodere e não se deixe abater pela doença.

Mas, lembre-se de que cada caso é um caso. Busque apoio e apoie outras mulheres, fale quando precisar e ouça quando puder. É importante se fortalecer para aceitar o diagnóstico e lidar com o tratamento da melhor forma. Busque tratamento, informação e apoio familiar e psicológico. Ter uma rede de suporte é essencial para levar uma vida normal, com melhora significativa na qualidade de vida.

A nossa próxima conversa é uma continuação desse assunto. Vamos falar de como é viver com endometriose e lhe apresentar mulheres diagnosticadas com a doença e têm consigo levar uma vida plena e feliz, uma vida como toda vida deve ser.

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Colaborou com esse artigo:
Dra. Karen Rocha De Pauw
Ginecologista – CRM-SP 106923
Site: www.doutorakaren.com


Referências bibliográficas e datas de acesso

1 – Procuradoria Especial da Mulher – 01/03/2020

2 – Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva – 01/03/2020

3 – Gineco.com – 02/03/2020

4 – Gera – 02/03/2020

5 – Revista Galileu – 01/03/2020

6 – Boa consulta – 03/03/2020

7 – Tua saúde – 04/03/2020

8 – Portaria SAS/MS n. 144, de 31 de março de 2010 – 04/03/2020

9 – Minha vida – 04/03/2020