Depressão, ansiedade e pânico: conheça diferenças e sintomas
Ainda celebrando o janeiro branco, vamos dedicar esse artigo ao tema do momento: saúde mental. Hoje, vamos investigar e discutir a ansiedade, pânico e a depressão, já que eles são alguns dos mais recorrentes transtornos emocionais.
Os transtornos emocionais são disfunções psicológicas que causam muita dor e sofrimento. Por isso, não raras as vezes, eles vêm acompanhados de sintomas físicos e geralmente estão associados à um quadro de depressão.
No artigo anterior sobre o tema, explicamos sobre a depressão e a prevenção do suicídio. Agora, você vai descobrir as diferenças entre ansiedade, pânico e depressão, e mais, vai entender como é feito o diagnóstico, quais são os sintomas, causas e claro, quais as principais opções tratamento.
Depressão, ansiedade e pânico: é tudo a mesma coisa?
A resposta rápida é não. Mesmo que a depressão, a ansiedade e a síndrome do pânico sejam todos distúrbios de ordem psicológica, eles apresentam características diferentes. Na verdade, as três condições fazem parte de uma grande variedade de transtornos mentais.
O que são transtornos mentais
São alterações de pensamento, emoções e comportamento que causam extrema angústia e interferem de forma negativa no cotidiano de alguém. 1
A depressão é talvez o mais conhecido exemplo deste tipo de distúrbio, mas como já sabemos, não é o único. Infelizmente, não são apenas a ansiedade e a síndrome do pânico que fazem companhia à depressão no universo dos transtornos mentais.
Poderíamos dar outros exemplos: a fobia social, o transtorno afetivo bipolar, os distúrbios de mania e tantos outros.2
Já que o termo define uma grande variedade de problemas relacionados à saúde mental, é bastante difícil diferenciar. Mas este é um desafio que vamos aceitar!
Mas faremos isso aos poucos, pois primeiramente, vamos estabelecer a diferença entre a depressão, ansiedade e o pânico:
Definições de depressão, ansiedade e pânico
É muito importante compreendermos a diferença entre os diferentes tipos de transtornos emocionais, pois assim fica mais fácil adotar medidas de prevenção contra gatilhos e crises. Da mesma maneira, a investigação de possíveis causas se torna muito mais descomplicada o que favorece as indicações de tratamentos mais adequados.
Depressão
Como vimos no nosso primeiro artigo, a depressão é uma doença psiquiátrica e crônica. Completamente diferente daquela tristeza que todos nós sentimos de vez em quando.
Nos quadros de depressão, a tristeza (que é natural por algo ruim que nos aconteceu), simplesmente não passa. O mal-estar emocional inclusive pode não ter nenhum motivo aparente. 3
Alguns sintomas da depressão incluem:
- Insônia;
- Irritabilidade, ansiedade e angústia;
- Desânimo, fadiga e cansaço fácil;
- Diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer;
- Desinteresse e falta de motivação;
- Sentimentos de medo e insegurança;
- Pessimismo, culpa e baixa autoestima;
- Sensação de inutilidade e fracasso;
- Diminuição do desejo e dificuldades no desempenho sexual;
- Perda ou aumento do apetite e do peso;
- Pensamentos em relação ao suicídio.
Ansiedade
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos brasileiros sofrem de algum transtorno de ansiedade. Isso nos coloca em primeiro lugar no ranking de ansiosos. E não é exagero! Somos o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade do mundo.
Ansiedade normal x transtorno da ansiedade generalizada
A ansiedade é um estado de espírito relativamente natural. A expectativa em relação a um evento importante como uma prova de vestibular, uma possível promoção no trabalho, a visita de alguém especial, são todas situações que mexem mesmo com as nossas emoções.
No entanto é importante prestar atenção se esse sentimento – que deveria ser um misto de expectativa, alegria e uma leve preocupação – torna-se motivo de sofrimento.
As pessoas que têm transtorno de ansiedade sentem uma preocupação e medo extremos em situações simples e de rotina. Alguns apresentam sintomas físicos, que atrapalham suas atividades cotidianas e tornam-se uma grande agonia.4
Também conhecido como (TAG), o transtorno da ansiedade generalizada é um estado de ansiedade persistente e de difícil controle. Para diagnóstico, este sentimento deve estar presente por pelo menos seis meses e vir acompanhado por três ou mais dos seguintes sintomas:5
- Inquietação;
- Fadiga;
- Irritabilidade;
- Dificuldade de concentração;
- Tensão muscular;
- Perturbação do sono.
Sintomas psicológicos da ansiedade 4
- Constante tensão ou nervosismo;
- Sensação de que algo ruim vai acontecer;
- Medo constante;
- Descontrole sobre os pensamentos, principalmente dificuldade em esquecer o que deixa a pessoa preocupada;
- Problemas para dormir;
- Irritabilidade.
Sintomas físicos da ansiedade 4
- Dor ou aperto no peito e aumento das batidas do coração;
- Respiração ofegante ou falta de ar;
- Aumento do suor;
- Tremores nas mãos ou outras partes do corpo;
- Agitação dos braços e pernas;
- Sensação de fraqueza ou cansaço;
- Boca seca;
- Mãos e pés frios ou suados;
- Náusea;
- Dor de barriga ou diarreia.
Um dos grandes agravantes da ansiedade é que – sem o tratamento e controle adequado – ela pode evoluir para outras manifestações de distúrbios emocionais, como a síndrome do pânico, da qual falaremos a seguir. Confira:
Pânico
A síndrome do pânico é um agravamento da ansiedade. Em outras palavras, são crises repentinas de ansiedade aguda, marcadas por muito medo e desespero, associadas a sintomas físicos e emocionais aterrorizantes.6
Na síndrome (ou transtorno do pânico) a pessoa tem crises onde o medo é o principal sentimento. Por exemplo: medo de perder o controle, medo de ter um ataque cardíaco, medo de enlouquecer.6
Não fazer a menor ideia de quando, ou se, a crise vai acontecer, gera um estado de tensão e ansiedade que igualmente favorece o aparecimento de outras fobias. A mais comum é agorafobia, isto é, medo de sair de casa, de locais públicos, de multidão e de qualquer outro lugar onde exista dificuldade de escape fácil e imediato. Outra igualmente comum é a fobia social. Como veremos mais à frente, elas não são a mesma coisa.6
Antes disso, vale a pena falar um pouco dos sintomas específicos da síndrome do pânico:7
- Sensação de estar em perigo;
- Medo de perder o controle;
- Medo da morte ou de uma tragédia;
- Sensação de estar fora da realidade, como num sonho;
- Dormência e formigamento nas mãos, nos pés ou no rosto;
- Palpitações, ritmo cardíaco acelerado e taquicardia;
- Dificuldade para respirar, falta de ar e sufocamento;
- Calafrios ou ondas de calor;
- Náuseas e vômitos;
- Dores abdominais;
- Desconforto e dores no peito;
- Dor de cabeça;
- Sudorese;
- Tremores;
- Tontura;
- Desmaio;
- Sensação de estar com a garganta fechando;
- Dificuldade para engolir.
Gatilhos para crises de pânico
Nos estágios iniciais do transtorno, parece não haver nenhum gatilho para o ataque, por isso é muito difícil prever uma crise. Ainda assim, existem alguns indícios de que lembrar-se de ataques de pânico anteriores pode contribuir para que uma nova crise aconteça. Sendo este um acontecimento muito sufocante, é difícil que a pessoa se esqueça completamente dele, o que dificulta ainda mais que ele não volte a acontecer.7
Diferença entre depressão e ansiedade
À essa altura, você já deve ter compreendido as principais diferenças entre cada uma das doenças, não é mesmo? Mesmo assim, a gente vai resumir pra você!
Em linhas gerais a depressão é uma doença do organismo como um todo, ela compromete o humor, o pensamento, a autoimagem e a forma de ver e sentir a realidade. Conforme se agrava, a depressão compromete também o bem-estar físico, modificando a disposição, a alimentação e até mesmo o sono.
A depressão apresenta sintomas variados, que vão desde uma tristeza persistente e pensamentos negativos até as alterações na sensação corporal. Concluímos também que é muito importante diferenciar uma tristeza comum da depressão, porque isso irá antecipar e facilitar o tratamento, tornando-o mais eficiente.8
Por outro lado, a ansiedade (enquanto transtorno e não aquela ansiedade “normal” que todos sentimos) é uma sensação muito angustiante. Ela traz uma inquietação e preocupação exagerada e prejudicial. Ela causa o sentimento de urgência e pressa. É intensa e duradoura o bastante para atrapalhar as atividades normais do dia a dia. Além disso, a ansiedade também é um dos principais transtornos mentais conhecidos.8
Diferença entre ansiedade e pânico
Também já deu pra perceber que a ansiedade e a síndrome do pânico estão associadas, embora não sejam exatamente a mesma coisa. Todas as pessoas com síndrome do pânico sofrem de ansiedade. Mas nem todas as pessoas que têm ansiedade desenvolvem a síndrome do pânico.
A síndrome do pânico é um estágio mais avançado da ansiedade. Ela acontece quando um medo súbito e incontrolável toma conta da pessoa, fazendo com que ela desenvolva sintomas físicos graves, como falta de ar, taquicardia, desorientação mental e outras sensações de agonia e pavor.
Portanto, a diferença principal entre ansiedade e síndrome do pânico é a intensidade dos sintomas e o fato da crise de pânico ser muito difícil de prever e controlar.
Relação entre ansiedade, depressão e pânico
Depois que estabelecemos as diferenças, e agora com uma clareza maior sobre os sintomas de cada doença, fica muito mais fácil falarmos da relação entre os três distúrbios.
É comum que um mesmo indivíduo tenha o diagnóstico das três patologias: depressão, ansiedade e síndrome do pânico. Infelizmente, estima-se que metade dos pacientes com Transtorno da Ansiedade Generalizada (TAG) irá desenvolver o depressão – em tempo, a doença também é conhecida como Transtorno Depressivo Maior (TDM).9
A ansiedade costuma vir logo antes da depressão. A lógica é relativamente simples: a ansiedade em grau avançado (que já pode estar associada à síndrome do pânico) traz medos intensos e uma agonia constante. Esse acúmulo de sentimentos negativos e persistentes naturalmente podem evoluir para um quadro depressivo.10
No meio disso tudo, ainda existem os fatores genéticos por trás de cada caso. Isso significa que alguns indivíduos possuem uma predisposição biológica para a depressão e outros transtornos de ansiedade. Então acaba sendo quase automático que uma coisa puxe a outra: o indivíduo desenvolve ansiedade, que desencadeia a síndrome do pânico que por sua vez vai ser um gatilho para a depressão.
Quando um paciente apresenta duas ou três condições ao mesmo tempo, os sintomas costumam ser mais severos. O simples fato das doenças coexistirem já torna o quadro mais crônico, atrasa a recuperação e aumenta a taxa de recaída após o tratamento.10
Além disso, estudos mostram que há maior necessidade de hospitalização e maior número de tentativas de suicídio quando existem vários transtornos mentais associados. Portanto, quando a ansiedade, a síndrome do pânico e depressão se manifestam juntas elas se retroalimentam, e naturalmente o tratamento costuma ser mais difícil. 10
Outros transtornos de ansiedade
Assim como a depressão e a síndrome do pânico podem surgir como consequência direta da ansiedade, existem outros distúrbios mentais que podem aparecer. Vamos citar brevemente alguns dos mais comuns:
Transtorno afetivo bipolar: É um distúrbio psiquiátrico complexo que gera mudanças súbitas entre episódios de depressão e euforia. A bipolaridade é classificada em 4 tipos, de acordo com a intensidade, frequência e duração das crises.
Transtorno de personalidade borderline: O Transtorno de Personalidade Borderline é um distúrbio mental que causa um padrão de impulsividade, em outras palavras, a pessoa sofre com uma grande instabilidade nas relações interpessoais, em sua autoimagem e seus afetos. A pessoa com o borderline têm uma visão um pouco distorcida de si mesma e dos outros. Outra característica bastante comum nestes quadros é o medo (olha o medo aí mais uma vez) do abandono e o desconforto intenso só de pensar em ficar sozinho.11
Fobia social: Nós citamos essa disfunção lá em cima, você lembra? Esse distúrbio também é conhecido como transtorno da ansiedade social, pois a pessoa sofre com desconforto desproporcional em relação a interações sociais. Estas pessoas podem ficar realmente apavoradas com a ideia de ir a uma festa, por exemplo. O medo (de novo, ele) que sentem é tamanho, que muitas vezes chega a causar isolamento quase completo.12
Mania: A mania é transtorno associado ao transtorno bipolar. Sua principal característica é uma excitação manifestada por hiperatividade mental e física, da mesma forma, há desorganização do comportamento e elevação do humor. É a fase maníaca do transtorno bipolar, e pode acontecer antes, durante ou depois de um período de depressão profundo.13
Causas, diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais 1
As causas dos transtornos mentais são geralmente resultado de uma complexa combinação entre fatores biológicos e ambientais.
Pode ser difícil diferenciar a tristeza normal da depressão, quando uma pessoa está de luto pela a morte do cônjuge ou de um filho, por exemplo. Isso acontece porque nas duas situações é comum que haja tristeza e humor deprimido por um período relativamente longo.
Da mesma forma, é desafiante diagnosticar o transtorno de ansiedade e suas variáveis quando a pessoa em questão está passando por um período estressante no trabalho ou na vida pessoal.
A linha divisória entre ter determinados traços de personalidade e ter um transtorno de personalidade pode ser tênue. Por isso a medicina costuma avaliar a frequência e a persistência de alguns sintomas. O diagnóstico costuma se basear nos seguintes critérios:
- A gravidade dos sintomas;
- Por quanto tempo os sintomas duram;
- De que maneira os sintomas afetam a capacidade de funcionamento na vida diária.
Possíveis causas da depressão, ansiedade e pânico
Como já falamos, as doenças mentais são causadas por um conjunto de fatores, incluindo àqueles:
- Hereditários;
- Biológicos;
- Psicológicos;
- Ambientais.
A ciência tem demonstrado que fatores hereditários desempenham um papel importante em muitos transtornos de saúde mental. Ou seja, é comum que um transtorno de saúde mental ocorra em uma pessoa cuja composição genética a torna vulnerável a esses transtornos. Essa vulnerabilidade, juntamente com os estresses comuns da vida, (os estudos, a família e o trabalho) podem desencadear um transtorno mental.
Opções de tratamento 9
Embora as causas e o diagnóstico dos distúrbios mentais ainda não sejam muito claros, o tratamento para estes diferentes transtornos tem evoluído bastante, especialmente nas últimas décadas.
Por exemplo, existem medicamentos antidepressivos que também melhoram os sintomas de ansiedade. Portanto, se você se identificou com alguns destes sintomas ou conhece alguém que apresenta estas características, o primeiro passo é procurar ajuda médica.
Além do remédio indicado pelo médico, fazer acompanhamento psicológico e ter hábitos de vida mais saudáveis, por exemplo, contribuem muito para a remissão dos sintomas. O mais importante é procurar ajuda, lembre-se: a saúde mental é tão importante quanto a saúde física!
Colaborou neste artigo:
Dr. Michel Haddad
CRM-SP 145096 / Especialidade: Psiquiatria
Referências bibliográficas e data de acesso:
1. MSD Manuais 17/09/2019
2. Pan American Health Organization 17/09/2019
4. Minha Vida 17/09/2019
5. Drauzio Varella 18/09/2019
7. Minha Vida 18/09/2019
8. Estar Saúde Mental 20/09/2019
9. Fala Freud D 20/09/2019
10. Minha Vida 20/09/2019
11. Portal São Francisco 20/09/2019